Os Médicos e as "Selfies" : A responsabilização além das responsabilizações

Do registro fotográfico ou em video de procedimentos realizados em situações inusitadas, como retirar objetos cilíndricos do intestino de algum paciente ou "litros" de pus de "bombados" que abusaram do uso de anabolizantes, às "selfies" para promoção pessoal em redes sociais; o costume de usar (e abusar) das câmeras dos smartphones, se tornou difundido e constante no dia a dia de vários profissionais da saúde também em pronto socorros, salas de cirurgia e mesmo em UTI´s.

Registrado o momento, por foto ou video, o compartilhamento por meio de redes sociais e salas de bate papo é quase compulsório e, uma vez na internet, é praticamente impossível voltar atrás, afinal, os receptores podem "baixar" o arquivo e compartilhar novamente sob outros títulos, fazendo da "net" um depósito com memória "eterna".

Ao assistirem videos como esses, vários internautas fazem comentários apontando a "falta de ética", ainda que não tenha mostrado nenhuma parte do corpo do paciente ou característica que o identifique, o profissional acaba taxado de antiético e sujeito à responsabilizações de ordem ética, civil e, até mesmo, penal.

Não pretendo "bater na mesma tecla" que a mídia e os internautas, até porque, que esses registros em foto ou video podem ser entendidos como posturas anti éticas, todo mundo sabe, mas, gostaria de demonstrar um ponto que está passando desapercebido especialmente por parte dos "criticados".

Recentemente a Folha de São Paulo veiculou uma matéria cujo título é  "Médicos expõem pacientes em redes sociais", em que anexa uma coletânea de fotos postadas em perfis pessoais de médicos, destes realizando procedimentos rotineiros. Para quem não viu, segue o link: http://www1.folha.uol.com.br/equilibrioesaude/2014/08/1503001-medicos-expoem-pacientes-em-redes-sociais.shtml

Reportagens como essa não param de surgir e todas apontam a falta de ética e exposição ilegal da imagem do paciente em vulnerável situação, todavia, o ponto que muitos não observam é que o fato de o médico posar para a foto durante uma cirurgia, ou ironizar a a condição vexatória do paciente com objetos no ânus ou com o "braço podre" pelo uso de anabolizantes, isso, enquanto realiza o procedimento de retirada os estranhos objetos ou "litros" de pus do corpo do paciente, evidencia que aquele médico é, na verdade, tão infantil quanto aqueles garotos que na época da escola riam quando um colega tropeçava ou da forma que um outro, portador de necessidades especiais, caminhava.

Assim, esses momentos de "brincadeira" geram um tipo de responsabilidade que vai além da administrativa, civil e da criminal, afinal, eternizam na internet, uma prova de que o médico é imaturo e diante de situações como as narradas, age como "criança".

Eventual condenação por falta de ética, pode ser cumprida e esquecida. Uma indenização, pode ser paga. Uma condenação criminal, muitas vezes nem chega a acontecer e pode ser "trocada" por uma cesta básica. Agora, uma prova do médico caçoando durante um procedimento ou parando para um "click",  não será esquecida pela "internet" e com certeza pesará em desfavor perante o mercado de trabalho ou mesmo poderá ser usada para desmoraliza-lo em outro processo por erro médico.


É uma questão de raciocínio, se o médico parou para posar para a foto ou riu por ter retirado um objeto cilindrico do intestino de um paciente, será que ele não agiu com negligência também em outro caso? Imagine ter contra si uma eterna prova de falta de profissionalismo. 

Isso dificultará a defesa em eventuais futuros processos, pois servirá para formar no julgador a convicção da personalidade negligente do médico.

Esse tipo de responsabilização pode ser muito mais severo, portanto, ajude-nos a combater a industria de indenizações por erro médico e preserve sua imagem.



Francisco Tadeu Souza

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